Concentração

O que é concentração


Concentração é a estabilização da mente num objetivo exterior ou numa unidade de apreciação de valores íntima. Não existirá concentração se não houver alguma coisa em que a mente possa se fixar. Um propósito definido, um interesse e a atenção ocasionarão o êxito da concentração. 



Você deve ter paciência, vontade inflexível e persistência infatigável. Você deve ser constante nas suas práticas. De outro modo, a preguiça e as forças adversas desviarão você da meta, do alvo, do ponto de concentração. Uma mente bem-treinada pode concentrar-se à vontade em qualquer objeto, quer ele seja interior, quer seja exterior, com a exclusão de todos os outros pensamentos. 



A concentração só pode ser realizada se você estiver livre de todas as distrações. Concentre-se em qualquer coisa que o atraia por ser boa para você ou em qualquer coisa que a mente preferir. No início, a mente deve ser exercitada na concentração em coisas mais concretas, e mais tarde você pode se concentrar, com sucesso, em temas sutis e em idéias abstratas. A constância na prática da concentração é de importância fundamental. 



Formas concretas: concentre-se num ponto preto na parede, na chama de uma vela, numa estrela brilhante, na Lua. 



Formas sutis: concentre-se em uma imagem da natureza e feche os olhos. Mantenha a imagem mental da natureza no espaço entre as duas sobrancelhas ou no coração. Concentrem-se em qualidades, tais como o amor, a misericórdia, ou em qualquer outra idéia abstrata. 



Auxílios à concentração



Concentração é a centralização da mente em um único pensamento. Durante a concentração a mente fica calma, serena e estável. As várias radiações da mente são recolhidas e focalizadas no tema da concentração. A mente é centralizada sobre a meta, o alvo, o ponto de concentração. Não haverá agitação da mente. Uma idéia ocupa a mente, a sua energia é concentrada sobre aquela única idéia. As sensações se aquietam, elas cessam de funcionar. Quando há concentração profunda não há consciência do corpo ou do meio ambiente. 



Quando você estuda um livro com interesse profundo, você não ouve se um homem chama ou grita o seu nome. Você não enxerga a pessoa que está na sua frente. Você não sente o aroma doce das flores que estão sobre a mesa que está ao seu lado. Isso é concentração, ou um único pensamento acentuado. A mente se ajusta firmemente a uma coisa. É fácil concentrar a mente em um assunto material porque, por força do hábito, ela se interessa por ele. As coisas rotineiras já estão impressas no cérebro. A mente, então, não se dirigirá para objetos externos ao sentir o imenso prazer que advém da prática da concentração. Maior concentração significa mais energia. A concentração é a chave básica para abrir a câmara da consciência. 



Concentre-se. Medite. Desenvolva os poderes da meditação e da concentração profundas. Muitos pontos obscuros se esclarecerão. Você receberá as respostas e as soluções do íntimo. No início, será muito difícil concentrar a mente em uma única idéia. Reduza o número de pensamentos. Tente manter a mente em um tema. Se você pensar em uma rosa, somente poderá ter pensamentos relacionados com a rosa. 



Não se preocupe se mesmo durante a prática da meditação a sua mente divagar. Permita que ela flua. Vagarosamente, traga-a de volta para o seu centro. 



A concentração é um processo puramente mental. Ele necessita de que a mente se volte para o interior. Não é um exercício para os músculos. Não deve haver tensão indevida no cérebro. Você não deve lutar e combater violentamente com a mente. 



Sente-se numa posição confortável. Relaxe todos os músculos do corpo. Não deve haver funções musculares, nem emocionais, nem nervosas ou mentais. Acalme a mente. Silencie os pensamentos borbulhantes. Acalme as emoções. Ponha um freio no processo do pensamento. Não preste atenção às idéias que se querem introduzir. Dê uma sugestão à mente: “Eu não me importo se vocês estão aí ou não”. Em outras palavras, seja indiferente. Elas não causarão qualquer problema. Esse é o segredo da disciplina mental. O progresso na concentração só será visível pouco a pouco. Seja regular em sua prática. Não a interrompa nem por um dia. Este processo de eliminar todas as idéias deve ser atendido para que você obtenha algum poder de concentração. Sempre se mantenha em um estado de ânimo positivo. Quando você desejar se concentrar em uma parte do trabalho que tem de ser feito com cuidado, você pode usar toda a sua vontade e também a sua imaginação. A imaginação ajuda até mesmo a concentração. 



Conclusão



Você precisa manifestar um grande interesse na prática da concentração. Somente assim a sua atenção total será dirigida para o objeto sobre o qual você deseja se concentrar. Não existe concentração se não houver um grau apreciável de interesse e de atenção manifestados pelo praticante. 



A atenção é o uso constante da mente. Ela é a focalização da mente em alguma coisa escolhida. Você pode desenvolver as suas faculdades e capacidades mentais através da atenção. Onde houver atenção, também haverá concentração. A atenção deve ser cultivada aos poucos. Ela não é um processo específico. Ela é a totalidade do processo mental sob um dos seus aspectos. 



A atenção representa um grande papel na concentração. Ela é à base da vontade. Se for adequadamente orientada e dirigida para o mundo interior com o propósito da introspecção, ela irá esmiuçar a mente e iluminar os muitos fatos assombrosos para você. 



Fonte: Concentração e Meditação, de Swami Sivananda

A concentração – como desenvolvê-la

Nesta lição aprenderemos sobre a importância da concentração, como desenvolvê-la e como isso nos ajudará em neste curso e até mesmo em nossa vida cotidiana. 

No curso algumas técnicas para serem executadas necessitam de concentração e imaginação. 
São os casos das técnicas de relaxamento, meditação e projeção astral. 
Ter capacidade de concentração é essencial para colher resultados nas práticas que estamos aprendendo no curso.
Mas afinal, o que é exatamente concentração? 
Concentração é a capacidade de ter em mente apenas um único pensamento, é ter a atenção voltada para um único ponto. 
Estamos concentrados quando temos em mente apenas um único objetivo, ou uma única imagem mental. 
Se por exemplo, estamos tentando imaginar algo e em nossa mente está passando uma sucessão de pensamentos, vozes e imagens, então não estamos concentrados em nada. 
E como fazer para desenvolver a concentração? 
Para desenvolver a concentração precisamos nos disciplinar para isto, ou seja, adotar certos hábitos em nosso dia a dia que contribua para treinar a concentração. 
Dessa forma, quando fazermos uma prática seja ela de relaxamento, meditação ou projeção astral, será muito fácil nos concentrarmos porque em nosso dia a dia nos acostumamos a fazer tudo com concentração. 
Além disso, ter o hábito de fazer tudo com concentração também nos ajudará no desempenho das tarefas do cotidiano, seja em casa, no trabalho, etc.


Disciplina

A seguir veremos algumas dicas simples, as quais se implantadas em nosso dia a dia, nos ajudarão a desenvolver a capacidade de concentração:
·                            Primeiramente deve estar bem claro que só podemos fazer uma coisa de cada vez, e quando estivermos fazendo uma atividade devemos ter toda nossa atenção voltada somente a ela. 

Isso pode parecer óbvio, mas o mais comum é que uma pessoa faça uma determinada atividade e esteja pensando na próxima que precisará fazer depois.

·                            Dedique o tempo que for necessário para concluir uma determinada atividade que esteja fazendo e, somente após concluí-la, passe para uma próxima atividade, e assim sucessivamente até terminar o seu dia.
·                            Faça seus movimentos com concentração. Estamos muito acostumados a fazer as atividades de forma mecânica, isto é, fazendo determinados movimentos sem prestar atenção, e pensando em outras coisas que não tem relação alguma com o que estamos fazendo. 

Situações muitos comuns onde isto ocorre é quando estamos tomando banho, escovando os dentes, dirigindo o carro, etc.

·                            É claro que quando tentarmos nos concentrar em algo nossa mente tentará desviar para outros pensamentos, já que nunca foi submetida a uma disciplina. Quando isto ocorrer devemos trazer nossa atenção imediatamente para onde estávamos concentrados, tantas vezes quanto seja necessário.
·                            Se os pensamentos estão insistindo demais em atrapalhar a concentração podemos também lhes aplicar a morte psicológica, pois cada pensamento destes é um eu, um defeito psicológico e, portanto podem ser eliminados.
Seguindo essa disciplina você conseguirá seguramente desenvolver bastante sua capacidade de concentração. 

Mas não se esqueça que só conseguirá resultados com prática e continuidade.


O despertar da consciência

Nesta lição falaremos sobre o despertar da consciência, o qual juntamente com os temas do auto-conhecimento e da mudança interior, vem a ser um dos tópicos principais do curso. 

Vamos estudar inicialmente os seguintes textos de Samael Aun Weor:


Toda a humanidade vive em um sono profundo.

“Todo ser humano pode chegar à experiência da realidade. Todo ser humano tem direito às grandes vivências do espírito, a conhecer os reinos e nações das regiões moleculares e eletrônicas. 

Todo aspirante tem direito a estudar aos pés do Mestre, a entrar pelas portas esplêndidas dos Templos de Mistérios Maiores, a conversar com os brilhantes filhos da aurora do Maha-Manvantara da criação face a face. 
Contudo, tem-se que começar por despertar a consciência. 
É impossível estar despertos nos Mundos Superiores se aqui neste mundo celular, físico, material, o aspirante está dormido. Quem quiser despertar a consciência nos mundos internos, deve despertar aqui e agora, neste mundo denso. 
Se o aspirante não despertou consciência aqui neste mundo físico, muito menos nos mundos superiores. 
Quem desperta consciência aqui e agora, desperta em todas as partes. Quem desperta consciência aqui neste mundo físico, de fato e por direito próprio, fica desperto nos Mundos Superiores. 
O primeiro que se necessita para despertar consciência é saber que se está dormido. 
Isso de compreender que se está dormido é algo muito difícil, porque normalmente todas as gentes estão absolutamente convencidas de que estão despertas. 
Quando um homem compreende que está dormido, inicia então o processo do auto-despertar. 
Estamos dizendo algo que ninguém aceita. Se a qualquer homem intelectual se lhe dissesse que está dormido, podeis estar seguro de que poderia ofender-se. 
As gentes estão plenamente convencidas de que estão despertas. 
As gentes trabalham dormidas, sonhando... manejam carros dormidos, sonhando... casam-se dormidas, vivem dormidas, sonhando... e não obstante, estão totalmente convencidas de que estão despertas. 
Quem quiser despertar consciência aqui e agora, deve começar por compreender os três fatores subconscientes chamados: identificação, fascinação e sonho. 
Todo tipo de identificação produz fascinação e sonho. 
Nós vamos andando por uma rua, de repente se encontra com as turbas que vão protestar por algo ante o palácio do senhor Presidente. 
Se não está em estado de alerta (auto-observação) identifica-se com o desfile, mescla-se com as multidões, fascina-se e a seguir vem o sonho: grita, lança pedras, faz coisas que em outras circunstâncias não faria, nem por um milhão de dólares. 
Olvidar-se de si mesmo é um erro de incalculáveis conseqüências. Identificar-se com algo é o cúmulo da estupidez porque o resultado vem a ser a fascinação e o sonho. 
É impossível que alguém possa despertar consciência se deixa fascinar, se cai no  sonho.
Já vimos em lições anteriores que nossa constituição psicológica de um modo geral é:

·                            3% de Essência livre, porém adormecida.
·                            97% de Essência adormecida aprisionada nos defeitos psicológicos.
Isto significa que não temos absolutamente nada de consciência desperta, que vivemos adormecidos todo o tempo. 

Mas podemos indagar: 
Como posso estar adormecido se agora estou lendo este texto, se posso operar o computador, fazer os afazeres domésticos, etc? 
Primeiramente precisamos entender as grandes diferenças entre consciência desperta e adormecida. 
A primeira grande diferença é que uma pessoa desperta é autoconsciente, isto é, percebe todos seus processos internos. Isso significa que ela permanece em auto-observação continuamente, que não se identifica com as coisas e fatos externos. 
Obs: “Identificar-se” no contexto do curso significa não estar em auto-observação. Quando uma pessoa não está em auto-observação necessariamente ela está identificada com algo, seja externo (objeto, fato, etc.) ou interno (pensamentos ou emoções). 
Quando uma pessoa desperta consciência, ela desperta aqui no mundo físico e também nas outras dimensões da natureza, como por exemplo, no mundo astral. 
Por isso uma pessoa de consciência desperta não necessita praticar técnicas para se projetar em astral, ela naturalmente se projeta no momento que desejar, percebe como ocorre todo o processo do desdobramento astral e tem total controle sobre si mesmo em qualquer dimensão que esteja. 
Uma pessoa de consciência desperta consegue recordar sem esforço as suas existências anteriores, assim como conhecer também seu próprio destino, ter percepções e faculdades extraordinárias e ainda muito mais. 
E uma pessoa de consciência adormecida, o que lhe ocorre? 
Vamos fazer uma analogia em relação ao que vimos nos parágrafos acima. 
Uma pessoa de consciência adormecida não é autoconsciente, isto significa que não consegue ou tem dificuldades em permanecer em auto-observação. 
Uma pessoa que não despertou do sono da consciência está adormecida aqui e em todas as dimensões da natureza. 
Temos o exemplo da projeção astral, que necessitamos utilizar certas técnicas para conseguirmos estar conscientes no mundo astral, onde na maior parte do tempo estamos adormecidos, simplesmente sonhando. 
E se estamos adormecidos e sonhando no mundo astral é porque estamos adormecidos e sonhando aqui no mundo físico também, ou seja, não temos as percepções que uma pessoa desperta tem. 
Por isso não é à toa que cometemos muitos erros, já que agimos, tomamos decisões, etc. com a consciência adormecida. 
Quanto mais adormecida esteja a consciência, mais passíveis de cometer erros estão. 
Quanto mais adormecida esteja a humanidade em geral, mais veremos atos de violência, guerras, barbáries, etc. 
Se os seres humanos tivessem pelo menos um pouco de consciência desperta as guerras seriam totalmente impossíveis. 
Na verdade só a prática pode realmente nos mostrar e fazer entender essas diferenças. 
Também é importante ter em conta que a natureza não dá saltos, e que o processo do despertar da consciência é lento e gradual como o crescer de uma árvore, e requer esforço contínuo para isso. 
E como fazer para despertar a consciência? 
Praticando o que aprendemos até agora, especialmente a auto-observação e a morte psicológica, e também o que iremos aprender na próxima lição: a meditação. 
A morte psicológica e a meditação são os meios definitivos para o despertar da consciência.

A Meditação

Nesta lição aprenderemos de uma forma bem simples e objetiva, como praticar a meditação e quais os enormes benefícios que podemos ter praticando-a regularmente. 

Na lição anterior vimos algo sobre o que é o despertar da consciência, e as grandes diferenças que existem entre ter a consciência desperta e adormecida. 
Vimos também que os meios efetivos para o despertar da consciência são a prática da morte psicológica e da meditação. 
Aqui está então o principal objetivo de praticarmos a meditação: despertar nossa consciência, o que por si só nos faz pessoas totalmente diferentes do que somos, com diferentes capacidades, objetivos e percepções. 
A prática da meditação remonta há tempos antiqüíssimos e está representada em todas as grandes religiões do mundo como o budismo, hinduísmo, cristianismo, sufismo, judaísmo, taoísmo, etc. 
Também a moderna Psicologia tem estudado e atestado que são muitos os benefícios advindos da prática da meditação.


A prática da meditação

Primeiramente devemos escolher um local silencioso, arejado e limpo. O quarto de dormir é o ideal. 

Depois devemos nos acomodar em uma posição confortável, na qual seja possível permanecer por um bom tempo sem se mover. 
Pode-se se sentar com as pernas cruzadas ao estilo oriental ou deitar-se com a barriga para cima, as pernas esticadas e os pés unidos. 
Após isso se deve fazer o relaxamento de todo o corpo, e para isso usaremos a técnica que já vimos nas primeiras lições deste curso. 
Feito isso, iremos utilizar o método descrito abaixo e passar a praticar a meditação propriamente dita. 
Ao praticar a meditação entenda que seu único objetivo deve ser silenciar a mente, parar com sua agitação e com a sucessão de pensamentos que normalmente ocorre. 
Quando se consegue alcançar o silêncio absoluto da mente, ou seja, a ausência total de pensamentos, é que experimentamos o Vazio Iluminador, o êxtase místico, a liberdade da alma. 
Quanto mais se pratica a meditação mais a mente vai se aquietando, e mais perto estaremos de alcançar o Vazio Iluminador. 
Não se preocupe em saber como deve ser o Vazio Iluminador ou qualquer coisa do tipo. Concentre-se apenas na técnica de meditação que você estiver fazendo. 
Seu objetivo deve ser apenas silenciar a mente, nada mais. Os demais virão por acréscimo. 
A mente é como um animal selvagem que precisa ser domado para obedecer. 
Inclusive isto é simbolizado na passagem bíblica na qual o grande mestre Jesus entra em Jerusalém montado sobre o asno, o burrico. 
Se quisermos entrar na Jerusalém celestial, nas dimensões superiores da natureza, devemos montar domar e controlar o asno, ou seja, a mente.


Os Koans

Um koan é uma frase enigmática que tem como objetivo propor um problema à mente que ela não consegue resolver. 

Dessa forma fazemos com que a mente se canse procurando uma resposta que ela não pode encontrar, uma vez que a resposta para um koan está além da mente, em um nível superior. 
Conforme a mente vai se cansando ela vai também se aquietando até ficar em completo silêncio. 
Esse é o objetivo do koan: silenciar a mente e ao mesmo tempo atrair levemente o sono. 
Quando adormecemos, mesmo que por um breve instante, com a mente em silêncio, é que vivemos a experiência mística. 
Pode-se escolher um dos seguintes koans para praticar a meditação: 
"Quem é aquele que está só no meio de dez mil coisas?" 
"Se tudo se reduz à unidade, a que se reduz a unidade?"
Também podemos usar um outro koan, nos concentrando e imaginado a seguinte situação: 
Existe um profundo abismo e na beira deste uma grande árvore está plantada. Essa árvore possui um longo galho que cresceu de tal forma que sua ponta se projetou vários metros sobre o abismo. 
Agora imaginamos que na ponta deste galho está amarrada uma corda e na outra ponta da corda está você, com as mãos e pés firmemente amarrados de forma que é impossível soltá-los, e apenas se segurando à corda com os dentes. 
Então pergunte à mente: 
"Como faço para sair vivo desta situação sem nenhuma ajuda?"
Então o que fazemos é lançar qualquer uma dessas perguntas à mente e ordenar que responda. 
Depois de lançar o koan para a mente responder deve-se concentrar esperando a sua resposta, como se estivesse olhando dentro da mente à espera da resposta que ela está obrigada a trazer. 
Dessa forma, mantemos a mente “pressionada” a trazer a resposta até ela ir se cansando e ficando em silêncio.
A mente é claro, tenderá a não obedecer, a trazer respostas erradas (pois ela não conhece a resposta para um koan) ou desviar para outros pensamentos. 
Por isso deve-se insistir para que ela obedeça e traga a resposta para o koan. 
Se a mente insiste em desviar para outros pensamentos seja imperativo com ela dizendo mentalmente: Fora! Não é isso que estou procurando!
Em seguida volta a se concentrar esperando a resposta. 
Lembre-se: qualquer resposta trazida pela mente estará errada, pois ela jamais pode conhecer algo que está além dos afetos e da mente. 
Cada pessoa deve praticar a meditação (ou qualquer outra prática) respeitando seus limites, ou seja, começar praticando por pouco tempo e, gradativamente, ir aumentando o tempo da prática. 
Se forçar à concentração por longo tempo logo de início, pode ser que ocorram dores de cabeça ou mesmo tontura. 
É importante que se pratiquem essas técnicas com continuidade, preferencialmente todos os dias, pois é dessa forma que se obtêm resultados.

 

Prática da concentração

"O treino na concentração é a prática para tornar a mente firme e segura. Isso traz tranqüilidade mental. Usualmente as nossas mentes não treinadas são agitadas e inquietas, difíceis de controlar. A mente segue as distrações dos sentidos de uma forma selvagem, tal como a água a correr por aqui e por ali, à procura do nível mais abaixo. Os agricultores e engenheiros sabem como controlar a água para o uso dos humanos. As pessoas são dotadas, sabem domar a água, constroem grandes reservatórios e canais - tudo isto apenas para canalizar a água de forma a poder ser utilizada. Além disso, a água armazenada torna-se uma fonte de energia elétrica e de luz - ainda maiores benefícios do controlo do fluxo da água. 

Da mesma forma, a mente que é domada e controlada, treinada constantemente, trará imensos benefícios. O Buda ensinou: "A mente que foi controlada traz verdadeira felicidade, portanto treina bem a tua mente para obteres os melhores benefícios". 
O treino da mente pode ser feito de muitas maneiras, usando diferentes métodos. O método mais útil e que pode ser praticado por todos os tipos de pessoas é conhecido como "atenção plena na respiração". Trata-se do desenvolvimento da atenção plena na inspiração e na expiração. 
A prática da meditação deve ser tão contínua quanto possível para dar frutos. O Buda ensinou-nos a praticar frequentemente, a praticar diligentemente, ou seja, a dar continuidade à prática do treino mental. 
Se queres ver por ti mesmo de que é que o Buda falou, olha a tua mente. Examina e vê como os pensamentos e sentimentos vão e vêm. Não te agarres a nada, apenas tem consciência do que quer que seja que haja para ver. Sê natural. Tudo o que fazes na vida é uma oportunidade para praticar. Tudo é Dharma." 
Ensinamentos do Venerável Ajahn Chah
A verdade é perfeita e completa em si. Não foi uma coisa descoberta recentemente. Sempre existiu. A verdade não está longe. Está desde sempre presente. Não é uma coisa a atingir, pois nenhum dos teus passos te afasta dela.


O FIRMEZA DE PROPÓSITO

A Firmeza de Propósito

A Vida Diária De Quem Vive a Sabedoria   

The Theosophical Movement
O artigo a seguir revela aspectos práticos pouco conhecidos da  filosofia esotérica ensinada  pelos  Mestres de  Sabedoria. Muitos estudantes não serão capazes de trilhar de imediato este caminho, mas isso não é motivo para desanimar. Ao contrário. A compreensão deve anteceder a ação. A pressa é inimiga do aperfeiçoamento. O aprendiz  tem que preparar-se  serenamente para a caminhada –  e ele deve fazer isso em seu próprio ritmo.  
“A Firmeza de Propósito”  foi  publicado inicialmente na  revista  “The Theosophical Movement”, na cidade de  Mumbai, Índia, edição de janeiro de  2003.  Produzida por associados da Loja Unida de Teosofistas, L.U.T., a revista é mensal.  A Loja Unida preserva desde 1909 a atmosfera sutil e o esquema original de ensino da Teosofia criado por H. P. Blavatsky.  O website www.filosofiaesoterica.com e o boletim eletrônico “O Teosofista” vêm abrindo espaço em língua portuguesa para uma compreensão clara do que são a teosofia, quando ela é libertada das suas várias paródias, imitações e distorções.   
“Tendo-se tornado indiferente aos objetos de percepção, o aluno deve buscar o Rajá dos sentidos, o Produtor de Pensamentos, aquele que desperta a ilusão... Quando para ele a sua própria forma parece irreal, assim como parecem irreais ao despertar todas as formas que ele vê em sonhos; Quando ele deixa de ouvir os muitos sons, ele pode discernir o UM-o som interior que elimina o som externo... Antes que a Alma possa compreender e consiga lembrar, ela deve estar unida ao Orador Silencioso... Porque então a Alma escutará, e lembrará. E então, o ouvido interior irá escutar - A VOZ DO SILÊNCIO.”

— “A Voz do Silêncio”, um livro de H. P. Blavatsky.
É em torno das poucas linhas acima que o estudante de Teosofia deve construir a  sua resolução, a  sua conduta e a sua prática espiritual  diária.  Os seus esforços têm que ser concentrados em função de um só objetivo – discernir o UNO – o som interior que elimina o som exterior.  Se isto estivesse além do alcance do estudante, a instrução não teria sido colocado na forma como foi.  Na verdade, todo o resto do livro “A Voz do Silêncio” só poderá ter utilidade se as poucas indicações contidas nestes versos forem seguidas. A obra é destinada  apenas a aqueles que tentam tornarem-se indiferentes aos objetos de percepção, e que persistem  no esforço enquanto os  anos passam um após o outro, até que a mensagem da vida espiritual se torne clara e forte.  Antes que se possa pensar em meditação, o aspirante tem que alcançar certo grau de concentração. A cada vez, antes que entre em sua hora sagrada dedicada ao mundo espiritual, ele tem que imunizar-se contra todas as reações inferiores e estabilizar-se se tornando indiferente a visões e sonhos –  tanto externos como internos - que projetem objetos de percepção em sua mente. Seu esforço preliminar deve ser por tornar as emoções incapazes de perturbar sua serenidade, pelo menos  durante àquela hora.  Ficar aborrecido por sofrer uma injustiça;  a indignação e a vergonha de ser alvo de calúnia;  o sentimento de ser esquecido  e marginalizado pelas próprias pessoas de quem deveria esperar  amizade e compreensão –  estas são apenas algumas circunstâncias  que a vida produz e que, se enfocadas corretamente, tornam-se meios de treinamento para alcançar a indiferença mais elevada. São circunstâncias como estas que ensinam ao discípulo como ir além da atmosfera viciada da existência pessoal. Também há dias de tristeza em que nada parece dar certo, em que sentar para praticar concentração só produz oscilações mais intensas.  Surgem momentos em que imagens indesejáveis aparecem uma após a outra, espontaneamente, maldosas e cheias de terror. A matéria tem destas tendências, mas a Alma do homem é mais forte do que qualquer compulsão que elas possam provocar. Também pode haver dias em que, contorcendo-se sob a tirania de outros, ele chega a duvidar de que a fraternidade seja um fato e constitua a chave para a emancipação.  Tais são os acontecimentos que testam as almas dos homens, e que, pela  sua própria violência desperta a força da alma e o seu  poder de erguer-se e vencer. Pode-se dizer que o estudante está concentrado quando faz com que toda a sua consciência (corpo, desejos, mente) se volte para um ponto focal de atenção.  Em tais ocasiões, ele coloca toda a força dos seus pensamentos sobre um só ponto,  de modo que não há distração nem relaxamento do esforço, durante o tempo em que a concentração é praticada. A energia assim fixada em qualquer  assunto ou objeto é intenso e produz resultados cuja magnitude ultrapassa as realizações das mentes que o mundo considera brilhantes.  Durante este esforço concentrado não pode haver desvio de atenção, nem diminuição da unidade compacta do esforço. A fixidez de propósito,  a unidirecionalidade, a recusa de qualquer coisa que o afaste do objetivo desejado, e o fechamento de todos os canais que podem trazer para o interior quaisquer elementos externos perturbadores, são requisitos desta prática de concentração.  A saúde  do corpo é tão vital, para esta prática, quanto uma mente em paz e um temperamento sereno.  Sendo algo que leva a um despertar da Alma,  esta prática exige uma devoção exclusiva que sabe discriminar entre os diferentes sons, visões,  emoções e atos,  e que classifica cada um deles como favorável ou como desfavorável ao seu desenvolvimento.   Sobre isso, Krishna afirma: “Esta disciplina divina não pode ser alcançada pelo homem que come em excesso ou come muito pouco, nem por aquele que tem o hábito de dormir muito, ou de dormir muito pouco.  A meditação que destrói o sofrimento é produzida naquele que é moderado na comida e na recreação, que é moderado em  suas ações, e tem hábitos regulares no sono e na vigília.”  (“Bhagavad Gita”, Theosophy Company,  Los Angeles,  Capítulo VI)Ele diz em seguida que tal pessoa deve concentrar seu coração no verdadeiro Eu e libertar-se de apego a qualquer desejo.   Só deve adotar esta prática quem estiver preparado para concentrar seu coração no verdadeiro Eu, que é o Eu de todas as criaturas. Aquele que praticar concentração para algum objetivo  diferente deste não está devotado ao Mais Alto, e faz apenas um esforço para possuir a força elevada em função de usá-la em propósitos inferiores e até mesmo não-espirituais. Se for dada a devida importância às palavras sábias de Krishna, ficará claro que elas exigem uma  atenção ativa do aspirante em toda a sua vida diária,  sem a exclusão de momento algum.   Neste contexto, as ações triviais,  feitas ao longo do dia, podem ser obstáculos para a vida elevada. Os costumes  estabelecidos na  sociedade são prejudiciais. A rivalidade nos negócios e a busca de prazeres “inocentes” são elementos de dissuação e barreiras para o progresso. A “concentração” é o ato, consciente e cauteloso, de tentar encontrar uma localização para a Alma no Mais Elevado. Esta não é uma tarefa fácil, porque, já no Capítulo Onze do “Bhagavad Gita”, Arjuna  confessa que durante sua caminhada ao longo da vida ele havia esquecido quem era Krishna,  e havia cometido portanto o erro de não manter a devida reverência pela presença ubíqua que é Krishna.  Embora fosse um discípulo de Krishna, ele não havia podido ver a diferença entre o Krishna mortal e o aspecto de Krishna que está presente em todas as coisas.  É neste contexto amplo que as palavras de Arjuna devem ser colocadas.  Diz ele:“Tendo sido incapaz de ver a tua majestade, eu te considerei um amigo e me  dirigi a ti dizendo: ‘Oh Krishna, filho de Yadu, oh, amigo’ ; e, cegado pelo afeto e pela presunção, eu às vezes te tratei  sem respeito no esporte, na recreação, no  descanso, em tua cadeira, e durante as tuas refeições, em público e em privado.” É para evitar tal perda da memória do mais elevado que se deve ter cuidado, porque, se esta memória não estiver sempre presente, a alma não será capaz de descansar no espírito durante cada momento de lazer.  A concentração que o discípulo deve buscar é totalmente diferente do que se entende por concentração em épocas mais recentes. Os charlatães são muitos e o mercado de aprendizes ambiciosos se expande rapidamente.  Concentração parece ser apenas o uso de uma força que, como qualquer outra, pode ser aplicada para bons ou maus objetivos.  Está na moda adquirir concentração para obter progresso pessoal e conseguir domínio sobre os destinos de outros homens.  O estudante de Teosofia é advertido contra a prática de concentração em função de objetivos ignóbeis e pessoais.  Sendo alguém que tenta colocar os interesses dos outros acima dos seus próprios,  espera-se que ele adquira estabilidade mental e acumule reservas de força interior.  Ele deve fazer isso para que esteja mais bem preparado  para servir a humanidade.  Os seus esforços de concentração devem girar em torno do desejo de tornar a Teosofia um poder vivo capaz de manifestar-se através da sua força vital.  Na concentração, ele deve encontrar aquela potência que irá capacitá-lo a produzir um vasto amor fraterno, capaz de atravessar as barreiras de raça, casta, credo e cor.  Ele tem que reunir em si mesmo vastos estoques de energia, que mais adiante lhe darão a força necessária  para trabalhar inegoisticamente pela humanidade, e por todos os homens, bons ou maus. Para alcançar um objetivo tão elevado, ele deve deixar de ser um homem arrastado pelos desejos, e transformar-se em uma força impessoal para o bem. Ele treina a si mesmo para colocar os seus sentidos e seus órgãos de ação a serviço do esforço para beneficiar a todos. Consequentemente, quando tal aspirante senta-se para praticar concentração, ele tenta esquecer por completo o seu eu pessoal. Ao fazer isso, ele fica mais preparado para ser completamente tomado por aquele sincero altruísmo que não conhece barreiras e está livre de toda limitação. Uma vez que o estudante tenha este objetivo nobre, como é que ele pode planejar seus próximos passos? Que conhecimentos ele busca, que poder ele ambiciona? A concentração deve tornar-se um modo de vida e um atributo íntimo do homem desperto. No entanto, para aquele que prefere aproximar-se gradualmente da concentração, o melhor exercício é o de revisar o que ele fez como ser pessoal nas vinte e quatro horas anteriores.  Será que a Teosofia caminhou junto com ele pelo caminho espinhoso da disciplina?   Será que ela foi o pano de fundo dos seus planos, dos seus êxitos e fracassos?  Ao olhar para cada acontecimento, ele deve examiná-lo como se estivesse no trono do Altíssimo. Será que o ideal de uma fraternidade universal da humanidade está presente em sua interação com os outros?  Será que ele mostrou indiferença em relação a seus próprios sofrimentos e manteve sua alma em paz mesmo quando a injustiça pessoal foi praticada contra ele, e de modo cruel? Será que ele foi procurar quem estava necessitado de uma palavra de sabedoria e mostrou para esta pessoa a proteção benigna de uma LEI viva?  Ele teve compaixão pelas fraquezas dos outros?  Cumpriu seus deveres?  Ou não os cumpriu? Ou cumpriu-os com indiferença? Ou cumpriu-os com uma dedicação total, nascida de um sentimento de  devoção?  Ele foi fraterno com todos os seres? Abriu espaço para que o progresso de outras pessoas estivesse assegurado?  Cada acontecimento  deve ser visto em retrospecto,  e de cada um deve ser tirado uma lição para a vida que deve ser vivida. Diante de cada ação, e  cada reação, cinco perguntas devem ser feitas: 1)  minha ação evocou em mim aquela solidariedade que é manifestação do amor imortal?  2) a ação sintetizou  a unidade entre pensamento, palavra e atitude prática?  3) a ação serviu para construir reservas daquela calma que permanece imperturbável ao longo de todas as experiências?   4) Foi manifestada aquela  coragem que surge da alma desperta?   5) Esteve presente com eficiência, em todos os níveis do ser,  uma divina indiferença em relação à dor e prazer?  Independentemente do fato de as respostas serem “sim” ou “não”, o esforço de concentração registrará na memória qual deve ser a movimentação ideal da alma para que ela continue em pleno contato com sua fonte e origem. Tudo isso ocorre no retrospecto —;  o levantamento de créditos e débitos, a assimilação  da experiência,  a produção de um conhecimento capaz de fazer frente a situações similares no futuro. O exercício marca o final de um dia de vinte e quatro horas. Mas há também outro exercício em que a imaginação é convidada a cumprir um papel extremamente importante na vida do indivíduo. No início do dia, a Alma deve registrar a sua visão no corpo físico, prevendo e planejando através de imagens mentais como será o dia.  Que deveres devem ser cumpridos? Qual será sua atitude em tal ou qual momento do dia? Com quem  ele se encontrará, provavelmente? É possível que ele tenha que ouvir calúnias? Se isto ocorrer, como ele se comportará?  Será que ele poderá atrair alguém para o caminho  correto? Se há a possibilidade de que alguém seja injustamente atacado em sua presença,  como é que ele fará sua defesa e ao mesmo tempo preservará o padrão de  respeitabilidade, decência e bom comportamento? Podem-se surgir circunstâncias calamitosas, de que modo ele controlará  suas reações, como usarão a circunstância para vencer um mau hábito ou aumentar um mérito – nele mesmo e nos outros?  Uma meia hora dedicada a tal trabalho tende a crescer mais e mais, até que cada momento livre passa a ser usado para aproximar a personalidade individual da sua luz interior. Como um bom artesão, o homem que pratica concentração seleciona e  arranja os seus instrumentos para o esforço a ser empreendido. O escultor, o pintor e o artista invocam suas musas; por que motivo àquele que esculpe e pinta com a vida não faria o mesmo?  É exatamente isso que ele deve fazer com o poder de concentração, depois de estabelecer sua ligação com o eu superior.  Ele tem o privilégio e a responsabilidade de criar e projetar neste plano as imagens que a sua alma constrói – imagens de ações bem feitas e de dias e noites dedicadas à busca do sagrado. Título original do texto acima:  “Fixity of Purpose”.  O artigo também pode ser encontrado em inglês no site www.filosofiaesoterica.com.  Basta examinar a seção em língua inglesa do site, ou buscar nele a lista de textos por autor, considerando como autor “The Theosophical Movement”.   Desejando fazer seu comentário sobre os textos, escreva-nos!


A Concentração Correta

A pratica da Concentração Correta consiste em cultivar uma mente focada, capaz de se concentrar em uma única coisa. O ideograma chinês para concentração significa, literalmente, "manter a uniformidade", nem muito alto nem muito baixo, nem excitado nem entorpecido demais. Outro termo chinês também usado algumas vezes para concentração significa "a morada da mente verdadeira".
Existem dois tipos de concentração, a ativa e a seletiva. Na concentração ativa, a mente se detém naquilo que esta acontecendo no presente momento, acompanhando inclusive as mudanças que se apresentam. O poema que se segue, composto por um monge budista, descreve a concentração ativa:

O vento assobia no bambu,
E o bambu dança.
Quando o vento cessa,
O bambu fica imóvel.

O vento chega e o bambu lhe dá boas-vindas. O vento parte e o bambu deixam que ele se vá. O poema continua:
 
Um pássaro prateado
Voa sobre o lago outonal.
Depois que o pássaro se vai,
A superfície do lago não tenta
Reter a imagem do pássaro.

Enquanto o pássaro voa sobre o lago, seu reflexo é nítido. Depois que o pássaro se foi, o lago reflete as nuvens e o céu com idêntica nitidez. Quando praticamos a concentração ativa, aceitamos tudo o que aparece. Não pensamos nem desejamos qualquer outra coisa. Apenas estamos focados no momento presente com todo o nosso ser. O que vier será bem-vindo. Quando o objeto de nossa concentração desaparece, a nossa mente permanece clara e límpida, coma um lago sereno.
Quando praticamos a "concentração seletiva", escolhemos um objeto e permanecemos com ele. Tanto na meditação sentada ou andando, seja a sós ou na companhia de outros, continuamos praticando. Sabemos que o céu e os pássaros estão lá, mas nossa atenção permanece focada no nosso objeto. Se o objeto de nossa concentração for um problema de matemática, não iremos ver televisão nem falar ao telefone. Abandonaremos tudo o mais e permaneceremos focados no objeto. Quando estamos dirigindo, as vidas dos passageiros no carro dependem de nossa concentração.
Não usamos a concentração para fugir de nosso sofrimento, mas nos concentramos para estar cada vez mais presentes. Quer caminhando, em pé ou sentados, concentrados, as pessoas percebem nossa estabilidade e nossa quietude. Quando vivemos cada momento profundamente, a concentração emerge naturalmente, o que por sua vez faz surgir à compreensão.
A Concentração Correta conduz a felicidade e também a Ação Correta. Quanto maior for o nosso grau de concentração, melhor a qualidade de nossa vida. As moças vietnamitas ouvem com freqüência suas mães dizerem que quando se concentrarem parecerá mais bonita. É o tipo de beleza que surge quando estamos atentos presentes aos acontecimentos do momento. Quando uma jovem se movimenta de forma descuidada, ela não parecera tão leve nem tão à vontade. A mãe dela talvez não use essas palavras, mas desejará incentivar a filha a praticar a Concentração Correta. É uma pena que ela também não encoraje o filho a fazer à mesma coisa. Todos nós necessitamos de concentração.
Existem nove níveis de concentração meditativa. Os primeiros são as Quatro Dhyanas, que são concentrações no reino da forma. Os cinco níveis seguintes pertencem à dimensão sem-forma. Quando praticamos a primeira dhyana, ainda estamos pensando. Nos outros oito níveis, o pensar dá lugar a outras energias. A concentração na dimensão sem-forma também é praticada por outras tradições, mas fora do budismo sua finalidade geralmente e escapar do sofrimento, e não atingir a libertação que surge quando o sofrimento e compreendido. Quando você usa concentração para fugir de si mesmo ou de sua situação, está praticando a concentração errônea. Algumas vezes precisamos escapar de nossos problemas para termos um pouco de alivio, mas cedo ou tarde será preciso retornar e enfrentar aquilo que evitamos. A concentração mundana procura a fuga. A concentração supramundana busca a verdadeira libertação.
Praticar samadhi e viver com profundidade cada momento que nos é dado. Samadhi significa concentração. Para podermos nos concentrar, temos que estar conscientes totalmente presentes e cônscios do que acontece. A atenção plena gera a concentração. Quando estamos profundamente concentrados, significa que estamos absortos no momento. Tornamo-nos o momento presente. É por isso que samadhi às vezes é traduzido como "absorção". A Atenção Plena Correta e a Concentração Correta nos elevam acima dos reinos dos prazeres dos sentidos e dos desejos, tomando-nos mais leves e mais felizes. Nosso mundo já não é tão grosseiro e pesado, o reino dos desejos, mas é o reino da materialidade sutil, ou o reino da forma.
No reino da forma, existem quatro níveis de dhyana. Através desses quatro níveis, a atenção plena, a concentração, a alegria, a felicidade, a paz e a equanimidade continuam a crescer. Depois da quarta dhyana, o praticante penetra em uma experiência mais profunda de concentração - as quatro dhyanas sem-formas - em que é possível enxergar a realidade com maior profundidade. Aqui, o desejo sensual e a materialidade revelam sua natureza ilusória e deixam de ser obstáculos. A pessoa começa finalmente a enxergar a natureza impermanente, impessoal e interdependente do mundo fenomênico. A terra, a água, o ar, o fogo, o espaço, o tempo, o nada, e as percepções, são todos interdependentes, necessitando uns dos outros para existir. Nada pode existir por si mesmo, independente do resto.
O objeto do quinto nível de concentração é o espaço ilimitado. Quando começamos a praticar este tipo de concentração, tudo parece ser espaço. Mas à medida que aprofundamos a prática, vemos que o espaço na verdade é composto de elementos "não-espaço", como terra, água, ar, fogo e consciência, e só existe neles. Considerando-se que o espaço é apenas um dentre os seis elementos que compõem todas as coisas materiais, concluímos que ele não tem existência independente. De acordo com os ensinamentos do Buda, nada tem existência separada. Portanto, o espaço e tudo o que existe é interdependente, sendo totalmente dependente dos outros cinco elementos.
O objeto do sexto nível de concentração é a consciência ilimitada. Inicialmente, vemos apenas consciência em tudo, mas aos poucos começamos a perceber que a consciência também é terra, água, ar, fogo e espaço. Tudo que é verdadeiro em relação ao espaço também é verdadeiro em relação à consciência.
O objeto do sétimo nível de concentração é o nada. Com a percepção normal, vemos flores, frutas, buIes e mesas, e achamos que eles existem independentemente uns dos outros. Mas quando observamos essa realidade mais profundamente, vemos que a fruta está dentro da flor, e que a flor, a nuvem e a terra estão dentro da fruta. Ao ultrapassarmos as aparências externas ou sinais, chegamos a "ausência de sinais". Primeiro pensamos que os membros de nossa família são separados uns dos outros, mas depois vemos que eles na verdade se contem uns aos outros. Você é como é porque eu sou como sou. Percebemos a conexão íntima que existe entre as pessoas, e passamos a funcionar além dos sinais. Antigamente achávamos que o universo fosse povoado por milhões de entidades separadas. Agora entendemos a total "irrealidade dos sinais".
O oitavo nível de concentração é um nível onde não há nem percepção nem ausência de percepção. Reconhecemos que tudo é produzido por nossas percepções, que são, ao menos parcialmente, incorretas. Assim, entendemos que não devemos acreditar inteiramente em nossa forma anterior de ver o mundo, e buscamos um contato mais direto com a realidade. Certamente não podemos nos impedir de perceber, mas agora pelo menos já sabemos que "a percepção" significa a percepção de um sinal. Uma vez que já não mais acreditamos na realidade dos sinais, nossa percepção se transforma em sabedoria. Ultrapassamos os sinais (não-percepção), mas não nos transformamos em seres desprovidos de percepção (sem não-percepção).
O nono nível de concentração chama-se cessação. "Cessação", neste sentido, significa a cessação da ignorância contida em nossas sensações e percepções, e não a cessação das sensações e percepções em si. É aqui neste nível de concentração que emerge o insight, ou verdadeira compreensão. O poeta Nguyen Du disse: "Tão logo passamos a ver com nossos olhos e ouvir com nossos ouvidos, estamos abertos para o sofrimento." Ansiamos por um estado de concentração em que não possamos mais ver nem ouvir nada, um mundo onde não haja percepção. Desejamos nos tornar apenas um pinheiro com o vento cantando em seus galhos, porque achamos que os pinheiros não sofrem. E natural procurar um local onde não haja sofrimento.
No mundo da não-percepção, a sétima (manas) e a oitava (alaya) não-consciências continuam a funcionar como sempre, e nossa ignorância e formações internas permanecem intactas na consciência armazenadora, manifestando-se por fim na sétima não-consciência. Esta e a energia da ilusão que gera a crença em um eu separado, e distingue o eu do não-eu. Uma vez que a concentração da não-percepção não transforma a força de nossos hábitos, quando as pessoas emergem desta concentração seu sofrimento continua intacto. Mas quando o meditador consegue atingir o nono nível de concentração, o estágio de arhat, manas é transformado e as formações internas que residem na consciência armazenadora são finalmente purificadas. A maior de todas as formações internas e a ignorância da realidade da impermanência e o não-eu. Esta ignorância da origem a ganância, ao ódio, a confusão, ao orgulho, a dúvida e a todos os pontos de vista. Todas essas aflições juntas produzem uma guerra de consciência denominada manas, que sempre consegue discriminar o eu do outro.
Quando alguém pratica muito bem, o nono nível de consciência irradia sua luz sobre a realidade das coisas e transforma a ignorância. As sementes que antigamente faziam a pessoa ficar presa entre o eu e o não-eu são transformadas, alaya e libertadas da restrição de manas, e manas já não tem mais a missão de construir um eu. Manas então se torna a Sabedoria da Igualdade, capaz de enxergar a interdependência e a interpenetração que fazem parte da natureza de tudo o que existe. Nessa altura, manas também já pode entender que a vida do outro é tão preciosa quanto a sua, porque não existe mais diferença entre o eu e o outro. Quando manas perde o controle da consciência armazenadora, esse repositório se torna a Sabedoria do Grande Espelho, que reflete tudo o que há no universo.
Quando o sexto nível de consciência é transformado, passa a se chamar Sabedoria da Observação Maravilhosa. A consciência mental continua a observar os fenômenos mesmo depois de se haver transformado em sabedoria, mas os observa de outra maneira, porque a mente tem consciência da natureza interdependente de tudo o que observa - portanto enxerga sempre o uno na multiplicidade, em todas as manifestações de nascimento e morte, de ir e vir etc. – sem ficar presa a ignorância. As cinco primeiras consciências se tornam a Sabedoria da Realização Maravilhosa. Nossos olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo, que antes nos faziam sofrer, tornam-se milagres que nos conduzem ao jardim da realidade. Desta forma, a transformação de todos os níveis de consciência se realiza sob a forma das Quatro Sabedorias. Nossas percepções e consciências errôneas são transformadas graças a pratica. No nono nível de concentração, todas as oito consciências estão ativas. A percepção e as sensações ainda estão lá, mas não são mais as mesmas de antes, porque ficaram livres da ignorância.
O Buda ensinou muitas práticas de concentração. Para praticar a Concentração da Impermanência, cada vez que olharmos para a pessoa amada, devemos vê-la como impermanente, e fazer o que estiver ao nosso alcance para que ela seja feliz agora. Se você achar que a pessoa amada é permanente, talvez pense que ela nunca vai melhorar. A compreensão da impermanência nos impede de ficarmos presos no sofrimento do desejo, do apego e do desespero. Devemos ver e ouvir tudo na vida sempre com essa perspectiva.
Para praticar a Concentração sobre o Não-Eu, entre em contato com a natureza de interdependência que existe em tudo. Isso lhe trará paz e alegria, e afastará o sofrimento. A pratica da Concentração no Nirvana ajuda a entrar em contato com a dimensão maior da realidade e a se tocar o não-nascimento e a não-morte. As Concentrações sobre a Impermanência, o Não-Eu e o Nirvana são suficientes para meditarmos durante toda nossa vida. Na verdade, as três são uma só. Quando tocamos profundamente a impermanência, também entramos em contato com o Não-Eu (a interdependência) e o Nirvana. Uma única concentração contém todas as outras. Não precisamos fazer todas.
No Budismo Mahayana, existem centenas de outras concentrações, tais como a Shurangama Samadhi (a Concentração da Marcha Heróica), a Saddharmapundarika Samadhi e a Avatamsaka Samadhi. Todas são importantes e maravilhosas. De acordo com o Sutra do Lótus, temos que viver simultaneamente nas dimensões histórica e absoluta da realidade. Devemos viver nossa vida com profundidade, como uma onda, contatando a substância água que existe em nós. Devemos andar respirar e correr de forma a estar sempre em contato com a dimensão absoluta da realidade. Então transcenderemos a idéia de nascimento e morte, o medo de existir ou não-existir, e a visão da multiplicidade e da unidade.
O Buda não pode ser encontrado apenas no Gridhrakuta, o Pico dos Abutres. Se você escutasse no radio que o Buda ia reaparecer no Monte Gridhrakuta, e que todo o mundo estava convidado para urna meditação andando com ele, todos os lugares de todos os aviões da Índia estariam ocupados, e talvez você ficasse frustrado porque também gostaria de participar. Mas mesmo que você tivesse a sorte de conseguir uma reserva em um vôo, não seria possível praticar a meditação andando com o Buda. Haveria uma multidão grande demais, na qual a maioria das pessoas não saberia a prática de inspirar e expirar com atenção e permanecer centrada no momento presente. Então, de que serviria ir ate lá?
Contemple a sua intenção. Você quer atravessar metade do mundo só para depois poder dizer que esteve com o Buda? Muitas pessoas desejam exatamente isto. Chegam ao local de peregrinação totalmente incapaz de estar no momento presente. Depois de alguns minutos olhando o lugar, elas correm para outro local. Tiram fotos para provar que estiveram lá, ansiosas para voltar para casa e mostrar aos amigos. "Eu estive lá, esta vendo? Tenho provas disso. Este aqui sou eu, em pé ao lado do Buda." Este com certeza seriam os desejos da maioria das pessoas presentes lá. A grande maioria não consegue caminhar com o Buda, nem permanecer presente no aqui e agora. Elas só querem dizer: "Eu estava lá, e este aqui sou eu, ao lado do Buda." Mas não e verdade. Elas nunca estiveram lá. E aquele não é o Buda. "Estar lá" e apenas um conceito, e o Buda da foto é apenas uma aparência. Não se pode fotografar o verdadeiro Buda, nem mesmo com a máquina fotográfica mais cara do mundo.
Se você não tiver a oportunidade de ir ate a Índia, então, por favor, pratique andando em casa, e você pode segurar realmente a mão de Buda enquanto caminha. Apenas caminhe, com paz e felicidade, e o Buda estará ao seu lado. Aquele que vai até a Índia e retorna com sua foto ao lado do Buda não viu o verdadeiro Buda. Você tem dentro de si a realidade; ele tem apenas uma imagem. Não corra por aí feito um louco, atrás de oportunidades para tirar fotografias. Entre em contato com o verdadeiro Buda. Ele está sempre disponível. Tome a mão dele e pratique a meditação andando. Quando conseguir tocar a dimensão maior, estará caminhando com o Buda. A onda não precisa morrer para se tornar água, porque ela sempre foi água. Esta e a Concentração do Sutra do Lótus. Viva a cada momento de sua vida profundamente, e entre em contato com a dimensão maior quando estiver caminhando, comendo, bebendo ou contemplando a estrela da manhã.

(Do livro “A Essência dos ensinamentos de Buda” – Thich Nhat Hanh)


O Fluir do Amor
(Prema Vahini)
Organização Sri Sathya Sai do Brasil uma publicação
www.sathyasai.org.br Fundação Sai

 O ESTUDO DE LIVROS E A CONCENTRAÇÃO UNIDIRECIONADA
Livros estão disponíveis em quantidade e preços muito acessíveis. Os Vedas, os Shastras e os Puranas (escrituras sagradas do hinduísmo) podem ser adquiridos e lidos por todos. Também não há escassez de Gurus. Vidya Piths1 existem em abundância e estão, ostensivamente, concedendo a dádiva do saber. Os meios de treinamento da mente são muitos e estão ao alcance de todos. Ainda assim, em nenhum lugar é ouvida a nota de satisfação por se ter compartilhado do néctar de jñana (sabedoria divina).
Quando vejo as pilhas de livros que se encontram por toda parte, sinto que a sabedoria neles contida não consegue atravessar a pesada encadernação e emergir em luz. Deus está oculto por cordilheiras de luxúria, raiva, inveja e egoísmo. Assim também, o Sol da Sabedoria está escondido nessas enormes pilhas de livros. Embora esses livros tenham se espalhado por todos os cantos da Terra, não podemos dizer que a cultura ou a sabedoria tenham aumentado. O homem não está longe ainda do macaco. Uma capa e um título atraentes, uma bela fotografia, isso é o que o leitor procura. Em outras palavras, prazer transitório e satisfação momentânea. Somente aqueles que, por meio do discernimento, selecionam os livros que lêem e praticam aquilo que leram, podem compreender a Verdade e gozar da Bem-Aventurança eterna. Somente esses vivem vidas proveitosas. Então, aqueles que buscam o caminho mais alto e que se alegram com pensamentos de Deus, deveriam esforçar-se para ler apenas histórias das vidas dos santos e sábios, e livros que auxiliem na contemplação do Divino. A leitura sem propósito de todo e qualquer livro e do que quer que chegue às mãos fará com que a confusão piore. Ela não trará nenhum benefício e não concederá paz.
Acima de tudo, cultive concentração unidirecionada, ekagrata (fixação da mente num só ponto), em tudo que fizer. Samadrishti (visão igualitária) é subha-drishti (visão auspiciosa).
Embora o leão seja o rei da floresta, quando anda na mata, volta-se para trás em todos os poucos passos, pois teme ser perseguido. Medo na mente faz a visão vacilar. A violência dentro do coração distorce a visão e desvia a vista.
O homem deve ter samadrishti, visão igualitária. Toda a criação deve parecer igualmente auspiciosa a seus olhos. Ele deve olhar para todos os seres com tanto amor e fé quanto tem por si mesmo, pois não há nenhum mal na criação, não, nem mesmo num minúsculo grão. O mal aparece como tal somente através de uma visão defeituosa. A criação fica colorida de acordo com a natureza dos óculos que usamos. Por si mesma, ela é eternamente pura e sagrada. Centros de aprendizagem; local em que o conhecimento é transmitido.